O Laçador, de Caringi e o Gaúcho

Estátua do Laçador em sua antiga localização
A Estátua do Laçador é um monumento símbolo da cidade de Porto Alegre. Muito lembrada quando se fala da capital do Rio Grande do Sul e bastante utilizada em cartões postais da cidade.

Esta obra foi feita por Antonio Caringi, escultor nascido em Pelotas no ano de 1905. Em 1928 Caringi foi estudar escultura na Academia de Belas Artes de Munique, na Alemanha, onde possivelmente herdou o sentimento de nacionalismo e culto aos heróis. A sua estética teve forte influência do ideal de perfeição da arte neoclássica. Esse ideal está presente no Monumento ao Laçador, que teve como modelo o tradicionalista Paixão Côrtes.

Em 1954, na Exposição do IV Centenário de fundação de São Paulo, no parque Ibirapuera, foi elaborado um concurso público para a execução de uma escultura que identificasse o homem rio-grandense. A escultura ficaria exposta no espaço reservado ao Rio Grande do Sul. Antônio Caringi foi o vencedor e a obra que deveria ser ofertada à cidade de São Paulo acabou vindo para Porto Alegre, devido à reivindicações para que a escultura ficasse na capital dos gaúchos. Em 20 de setembro de 1958, a Estátua do Laçador foi inaugurada na entrada da cidade. Em 2001, a obra foi tombada como patrimônio histórico. Em 2007, foi transferida do largo do Bombeiro para o Sítio do Laçador, para permitir a construção do viaduto Leonel Brizola.

O Laçador é a representação do gaúcho com os seus trajes típicos (pilcha), abaixo algumas peças utilizadas:
Tirador: espécie de avental de couro curtido e sovado que identifica a figura do Laçador e que protege a coxa do gaúcho na hora do correr o laço no momento da sujeição do animal;
Laço: pelo seu tamanho, era bastante raro, assim usado em razão da dificuldade que o gaúcho de outrora tinha frequentemente para acercar-se de animais semi-selvagens, muito ligeiros e perigosos;
Guaiaca: espécie de cinta de couro largo, onde, por meio de repartições, guarda-se dinheiro e documentos, e que se destina a ajustar a bombacha à cintura;
Bombacha: tipo de calça larga abotoadas no tornozelo, nesse caso da escultura feita sem muitos ornamentos;
Lenço: utilizado no pescoço, foi disposto pelo escultor distinto ao hábito atual, seguindo modelo antigo;
Camisa: simples, com gola e mangas dobradas e arregaçadas, adequadas à funcionalidade do laçar, botando a descobertos o vigor muscular dos braços e do peito seminu do campeiro, condizentes ao tipo de exercício árduo do seu trabalho;
Botas: Em modelo rústico, aparecendo dedos e ‘meia planta’ do pé assentada no solo, lembrando modelo artesanal primitivo. Este objeto está até hoje longe da vivência campesina. Na concepção simbólica do artista a bota-de-meio-pé dá uma integração mais íntima e telúrica do homem-terra e chão nativo.
Vincha: fita estreita de pano disposta à cabeça.
Referência e mais informações sobre a vestimenta em Paixão Côrtes: Vivências e Convivências

O artista buscou nas raízes da cultura gaúcha, através da figura de um ícone do tradicionalismo regional, representar o homem do campo, idealizado através de formas clássicas, onde aquele homem - que na verdade seria um peão campeiro, sofrido com a lida diária - porém é mostrado através de um corpo perfeito, musculoso e forte. Esta figura do homem guerreiro, altivo e corajoso vem ao encontro da imagem do gaúcho, criada e muito difundida na cultura local, uma idealização que exalta o orgulho pela própria terra, em um sentimento de pertencimento muito forte.

Abaixo um vídeo conduzido por Paixão Côrtes, onde é contada um pouco da história do tradicionalismo gaúcho e da estátua do Laçador:



Comentários

  1. Oi Raul
    Uma perfeição de detalhes a escultura de Antonio Caringi .
    O texto explicativo ajuda a entender a alma gaúcha, dando vida ao 'Laçador', muito perfeito.
    Todas as formas de Arte são admiráveis.
    Obrigada da atenção, da presença
    e deixo abraços

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  2. Que interessante, sempre vemos estátuas e esculturas em praças , mas nem imaginamos a história que existe por detrás.. É bom saber.

    Beijos
    *Raul, naquela foto das aves é um painel decorativo, mas engana não é? quando se olha a primeira vez parece que é natureza mesmo.

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  3. Olá Raul!!!

    Eu como boa gaucha nascida e criada em PORTO ALEGRE amo as tradições gauchas e a estátua do Laçador. O laçador e o gaucho ficou bem explicado e completo neste post, muito legal mesmo!!!
    Bom fim de semana!!!
    Bjs :)

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  4. Raul,
    A guerra é algo terrível, sim. Contudo, pode despertar humanidade e generosidade e alertar para os direitos humanos que neste momento andam esquecidos, pelo menos no meu país. :)
    Gostei da escultura do laçador, não conhecia. Obrigada.
    Abraço!

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  5. O que eu gostava de conhecer o Brisil!
    Já foi mais barata, a viagem.
    Agora está dificil.
    A Europa está em crise e o Brasil em pleno desenvolvimento. Há uns anos era precisamente o contrário.
    'Engraçada' a história, não?
    beijo.

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    Respostas
    1. É, a vida dá reviravoltas. O Brasil melhorou, mas ainda tem muitos problemas estruturais: a desigualdade social é muito grande, a saúde e educação públicas são ruins e existe muita corrupção e impunidade.
      Espero que a crise aí na Europa passe logo e você tenha condições de visitar o nosso país.

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  6. Estive em Porto Alegre, em 1986 e essa estátua, está bem gravada, em minha memória, por sua beleza. Não conhecia a sua história. Hoje,tive um aula magna. Como não sou egoísta, vou compartilhar...
    Obrigada, Campani amigo.
    Um abraço,
    da Lúcia

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