Estas esculturas de Xico Stockinger sempre me chamaram muito a atenção, devido à sua imagem impactante e expressividade ao mostrar os Gabirus, que são representados em bronze, para nunca mais esquecermos que existem pessoas assim. Enfim, mais uma postagem mostrando a arte sendo utilizada como denúncia das desigualdades sociais. Através de fotografias de Gonzalo Mezza e um texto de Justo Werlang, extraídos do Catálogo da Exposição de Francisco Stockinger na I Bienal de Artes Visuais do Mercosul - Vertente Política (1997).
Justo Werlang
"Francisco Stockinger, 78 anos, 51 anos de escultura*. Uma trajetória como a de poucos no país. Um país com profundas desigualdades sociais, reverberando no silêncio profundo em que vive este artista.
Em sua linguagem direta, franca e objetiva, argumenta que não podemos ficar impassíveis ao nos defrontarmos, no dia-a-dia, ali na esquina, com a vida que ainda levam milhares de brasileiros. Diz que não vamos ganhar a guerra, mesmo porque as utopias têm caído, uma a uma. Mas segue operando seu ofício.
Muito de sua escultura é carregada deste sentido social. Desde os anos 60, em séries de "guerreiros", "prisioneiros", "torturados", "sobreviventes", emprestou uma crítica combativa a seu trabalho, negando-se ao que considerava colaboracionismo. Se não ganhou a guerra, é certo que jamais perdeu a dignidade.
A constrangedora desnutrição crônica, de que sofrem populações de norte a sul do país, tem gerado uma subespécie de nanicos, o homem-gabiru . Gabiru, do tupi wawi'ru - "que devora mantimentos", sinônimo de rato-de-paiol, rato-preto, rato-pardo. Ratos que vivem em líxões junto às grandes cidades e que, em alguns momentos, fazem parte da dieta dos catadores de lixo.
Nesta instalação de 27 esculturas, Stockinger apresenta grupos familiares desta subespécie. Indivíduos flagrados em momentos diversos, da extrema dor da perda de um filho à intimidade e ao ócio. Delas aflora uma série de emoções, mas sobre-salta a conformidade. E é isto, exatamente, o que mais agride."
*Stockinger faleceu em 2009
Uma escultura que arrepia.
ResponderExcluirMuito sugestivo e atual.
beijinho