Socialismo e Liberalismo: uma breve reflexão

O presente texto tem como objetivo um breve debate sobre as ideologias políticas do Liberalismo e do Socialismo a partir da leitura de Andrew Vicent em seu livro “Ideologias políticas modernas”. Tendo em vista que essas ideologias são complexas - possuem diferenças teóricas e práticas divididas em diversas correntes e escolas – busco dar coerência a essa análise a partir dos conceitos centrais de liberdade e igualdade.

A princípio, é importante destacarmos o quanto é difícil na História tratarmos com datações das origens de um determinado processo histórico, pois muitas vezes na tentativa de sistematizações podemos acabar por simplificá-los. No que se refere às ideologias políticas estamos sujeitos ao mesmo problema, uma vez que encontramos diversas manifestações no tempo e espaço que poderiam ser classificadas como liberais e/ou socialistas. Contudo poderíamos dizer que o Liberalismo e Socialismo começam a tomar forma, como discursos e representações de uma ideologia política, no contexto da Revolução Francesa no século XVIII. Foi durante esse processo, com suas lutas políticas, sociais e culturais - as quais envolveram atores desde o “povo” até a nobreza com diversas divergências internas - que surgem os primeiros discursos liberais e socialistas em torno dos valores de liberdade e igualdade. Após, podemos considerar  como catalisadores dessas ideologias as efervescências e mudanças exponenciais nas sociedades geradas pela Revolução Industrial. E, por conseguinte, a consolidação do capitalismo no século XIX através do Imperialismo na África e Ásia com suas disputas que futuramente levariam a primeira Guerra Mundial em 1914.
É paralelo a esses processos históricos, com identificações ou críticas, que se revisitam e se diversificam as ideologias do Liberalismo e do Socialismo nos discursos e representações de nossas sociedades até os dias de hoje. De maneira geral, buscando uma coerência, porém tendo a consciência da dimensão da complexidade dessas ideologias que buscamos iniciar uma discussão a partir de questões teóricas e práticas em torno dos valores de liberdade e igualdade.
No Liberalismo, o indivíduo precede a sociedade, conforme o autor, o individualismo é o “cerne metafísico e ontológico” do pensamento liberal. “O indivíduo é um teste para a moralidade e a verdade. Cada pessoa é vista como sendo de igual valor” (p. 42) Assim, a princípio, todos são considerados iguais, contudo na defesa desse individuo na relação entre Estado e justiça que aparecem as marginalizações do pensamento liberal. Para compreendermos essa ideia é necessário relacioná-la ao seu contexto de origem, ou seja, como contestação burguesa na busca de direitos individuais civis, econômicos e de propriedade durante a Revolução Francesa. A princípio, não se buscou a “total igualdade” entre todos, mas sim liberdades individuais que permitissem essa chegar a essa igualdade. Logo, poderíamos dizer que o valor de liberdade sobrepõe o de igualdade, segundo o autor, a liberdade é um valor crucial para o Liberalismo.  
Tanto em seus discursos primordiais quanto atuais podemos perceber o núcleo de um pensamento do ideal de laissez-faire, de “deixar estar e fazer”, na vida política e econômica. Um pensamento que tem como categoria a livre disputa. Logo, o conceito de igualdade está no princípio do indivíduo, porém, não é estendido em sua relação com a sociedade, assim desconsideram-se contextos sociais e culturais. E, por exemplo, não se leva em conta a diferença de oportunidades reais em um sistema competitivo para uma pessoa oriunda de uma família com baixa renda. Nesse processo destaca-se a relação com Estado, na maioria dos pensadores liberais ele é considerado como repressor e, desta forma, deve ser mantido como mínimo e ser apenas pautado para a defesa das garantias individuais já citadas. Também, alguns liberais defendem um Estado de proteção paternalista, que mantenha paliativos a fim de que as desigualdades não sejam tão visíveis ao ponto de que sejam questionadas pelos “iguais que vivem de forma desigual”.
Já no Socialismo, a análise da natureza humana parte de um outro olhar, não melhor ou pior, mas em sua relação com a sociedade. Pois, os Socialistas compreendem, de maneira geral, o homem como criaturas cooperativas. Em torno disso surgem as idéias de relação contratual, cooperativismo e comunismo. Apesar dos entendimentos diversos, a partir de Vincent, “Indubitavelmente, a igualdade é um valor socialista crucial [...]” (p. 109) e precede o de liberdade. No entanto, também é uma questão complexa a qual imbrica várias reflexões e problemas. Por exemplo, até que ponto a busca por igualdade não afeta a liberdade? A igualdade deve ser controlada pelos indivíduos, por cooperativas ou pelo Estado?  Como pensar as diferenças em uma sociedade pautada pela igualdade? São algumas formulações a se fazer. Exemplos práticos na história não faltam, muitos deles fracassaram em alguns desses poucos pontos citados aonde na busca pela “Igualdade” a Liberdade não foi respeitada, gerando totalitarismos.
 Enfim, essa reflexão exige todo o cuidado como historiadores em evitarmos preconceitos e maniqueísmos que envolvem debates sobre esses assuntos tanto na mídia quanto em nossa historiografia.  Liberalismo e Socialismo são temas tão atuais e polêmicos, envolvem a História do Tempo-presente e a História Imediata, porém, não podem ser deixados de lado apenas às análises de cientistas políticos ou jornalistas, pois são de exímia importância a fim de compreendermos a História e possibilitar um diagnóstico do presente.
Referência:
VINCENT, ANDREW. Ideologias políticas modernas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1995.

Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...