Em seu filme Tempos
Modernos, o cineasta Charlie Chaplin faz uma representação da sociedade
britânica industrializada no início do século XX, a partir de uma forte crítica as desigualdades sociais, econômicas e culturais da sociedade capitalista.
Também demonstra o quanto os elementos da produção em série foram voltados cada vez mais ao lucro, mesmo ao custo da queda da qualidade de trabalho e
vida das classes trabalhadoras.
Chaplin, com sua
personagem The Tramp (O vagabundo),
com as devidas licenças poéticas, representa “o povo”, a maioria, o proletário,
ou seja, as classes dominadas que expropriadas do meio de produção são sujeitas
a vender sua mão-de-obra barata como um favor dado pelos empresários.
Assim, em várias cenas do filme, mesmo representando mais de dois séculos
depois do início da Revolução Industrial conseguimos captar esses aspectos da
exploração e desigualdade que infelizmente perduraram desde aquela época. Como
o faz Francisco Iglesias ao relacionar industrialização, urbanização e a
política dos cercamentos de seu livro A Revolução Industrial: "Vão
constituir a farta mão-de-obra disponível, que se sujeita a qualquer salário,
vivendo em condições de miséria, promiscuidade, falta de conforto e higiene, em
condições sub-humana." (p. 77).
Também, o autor, demonstra
o drama vivido pelas classes subalternas que não se adequavam a esse sistema
exploratório e estavam sujeitas as políticas de dominação burguesa. Casos nos
quais igualmente os movimentos sociais contestatórios eram tratados como diz o
próprio nome do personagem criado e representado pelo ator, como vagabundos,
através da repressão da polícia com violência e cárcere.
Desta forma, ao
reconstruir o trabalho nas fábricas à época da produção em série influenciada
pelo taylorismo (como a “economia de tempo”, técnicas de racionalização do
trabalho operário e organização da produção mecanizada) volta suas críticas à
exploração excessiva do trabalho ao custo humano. A fábrica pode ser vista como uma
micro-sociedade de establishment burguês em que as classes dominadas como
ovelhas devem se adequar e alienar-se. Cenário da primazia do lucro neste
processo de idealização burguesa da indústria perfeita na afirmação do domínio
do capital sobre o trabalho, destaco a bela cena do homem sendo devorado pela
máquina como o foi “pelas ovelhas” no início da revolução industrial.
Portanto, o filme com
prévias explicações e críticas pode ser utilizado como uma eficaz ferramenta
pedagógica uma vez que Chaplin conseguiu elaborar de forma atrativa com seu
humor e drama uma representação da sociedade capitalista britânica
industrializada. Assim, por exemplo, pode-se problematizar e comparar com os
alunos sobre permanências e mudanças no cotidiano atual e se as relações de
desigualdades ainda permanecem nos dias de hoje. Por fim, através da crítica e reflexão buscarmos mudanças na qualidade de vida e trabalho diagnosticando o quanto estratégias de afirmação e
dominação neoliberais não são distantes, mas permeiam as relações das sociedades
desde aspectos econômicos até culturais.
Referências
CHAPLIN,
Charlie. Tempos Modernos. [Filme –
DVD - Longa Metragem], EUA, United Artists, 1936.
IGLÉSIAS,
Francisco. A revolução industrial
(Coleção “tudo é história). São Paulo, Brasiliense: 1981.
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